Algum tempo após o golpe de estado do dia 12 de Abril, pode-se fazer um apanhado geral.
O que terá ganho os guineenses com este golpe de estado? Não sei responder a esta questão. Só sei aquilo que eu observo todos os dias. Bissau ficou "vazia", a população anda um bocado com medo, uma vez que grande parte da população que está em Bissau, ainda se lembra do que se passou 14 anos atrás, Guerra de 7 de Junho.
Estava na rua quando começou o tiroteiro de AK-47 e RPG7. Desta vez não durou muito tempo, o que me levou a pensar que tinham morto o Primeiro Ministro. Tudo o que se passou, levou-me a pensar o que vivi em 2009. Em 2008, assisti à tentativa de assassinato do Presidente da República, Nino Vieira. Era de madrugada e estava a dormir descansado, quando começo a ouvir tiros e rebentamentos. Os vidros do prédio onde moro começaram a abanar a cada rebentamento. Escusado será dizer que eu moro perto da casa onde foi feito o assalto. Ainda me levantei e fui à varanda da rua ver o que se passava. Quando me apercebi que eram tiros de AK-47 e RPG-7, fui logo para dentro do apartamento. Depois foram vividos momentos de tensão, tanto por mim como pelos meus colegas. Entretanto chegaram reforços e a favor do Presidente Nino Vieira e o tiroteiro foi-se espalhando pelo quarteirão. Chegou mesmo a existir tiroteiro debaixo do nosso prédio.
Em Abril de 2009 mataram o CEMGFA, Tagma isto ao cair da noite e nessa mesma noite mataram o então Presidente da República Nino Vieira. Mais uns momentos de tiroteiro, mais momentos de apreensão e mais momentos do "E agora?". Mais um duro golpe para a população guineense.
Depois veio, no dia 1 de Abril de 2010, mais uma escaramuça dentro das forças armadas com a substituição de Zamora Induta e a ascensão ao cargo por parte de António Indjai.
Em Dezembro de 2011 mais uma pequena escaramuça e finalmente temos o golpe de estado no dia 12 de abril de 2012.
Isto passou-se em 4 anos em que estive presente na Guiné-Bissau, foram 3 Presidentes da Répública, 3 Primeiros Ministros e uns quantos ministros da educação. Estive pouco tempo mas tive uma aprendizagem de vida muito grande. Sempre soube que mais tarde ou mais cedo regressaria a Portugal, mas e o que acontecerá ao país que me acolheu por quase 4 anos? E aos amigos guineenses que eu deixei? Que vi e acompanhei as mágoas dos mesmos sempre que mais um destes acontecimentos eram despoletados? Vi muita apreensão, muita incerteza e muita, mas mesmo muita tristeza. Consegui ver e sentir como o povo guineense é alegre e triste ao mesmo tempo. Também a esperança a resnascer a cada notícia que era ouvida, cada boato contado e cada um que era confirmado.
Foi com muita pena que eu vim embora da maneira como vim, gostava de me ter despedido dignamente das pessoas com quem trabalhava e de quem era amigo. De recordar os momentos passados e as aventuras passadas em terras distantes. De entre uma dessas memórias vem a de ter caminhado pelo meio de um campo minado da guerra colonial sem saber. Só meses mais tarde é que soube que ainda era um campo minado.
Resumindo, na Guiné RI, ESPANTEI E FIQUEI ESPANTADO, CONHECI E ATÉ CHOREI,
VIVI...