Ontem, acordei novamente com um sensação de que ia enroscar o punho. Sabia que tinha o tanque cheio, a vontade não me faltava, então só tive que ir confirmar uma coisa. Levantei-me e fui à net ver o tempo. Dava uns choviscos, mas nada demais, mochila às costas com o essencial para algumas eventualidades e pneu na estrada. Desta vez a tirada foi mais pequena, foram só de 250 quilómetros, ida e volta. Como tinha ido até ao leste do país na semana passada, esta semana fui até ao extremo norte. Fui dar uma volta a S. Domingos, que fica a 125 quilómetros de onde estou a viver. 125 quilómetros e duas pontes depois, até parece magia, como fui na minha menina que é uma 125cc, fiz 125 quilómetros. Foi uma almoço engraçado e uma viagem bastante interessante. Deu para pensar em muita coisa, e tomar algumas decisões, é por isso que gosto de andar de moto. Chegamos a uma altura em que somos nós, a moto e a estrada, tudo o resto é uma ilusão. É um sentimento de liberdade que temos em cada tirada, uma liberdade algo perigosa, isso assumo que é. Mas é uma liberdade bela e boa, uma liberdade que tem por pilares dois bocados de borracha que nos liga ao solo, à terra, ao mundo e aos buracos...
Capacete na cabeça, vontade de andar de moto e punho enroscado...
Após ter passado duas pontes, a última delas em S. Vicente, a paisagem mudou, ou pelo menos acentuou-se, já não via as bolanhas de arroz que são mais características do interior do país, mas era diferente este ambiente.
S. Domingos fica localizado na margem norte do rio Cacheu, então lá levei a minha menina até à beira da água, onde esteve já um pequeno porto montado .
Como podem ver, a minha menina fica bem do lado esquerdo e do lado direito da fotografia. É tudo uma questão de posicionamento. Não sei porquê, mas o facto de existir mar ou rio dá sempre uma enorme vontade de colocar a linha na água e depois logo se vê o que vi dar, mas desta vez foi mesmo só de vista.
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Uma das ruas de S. Domingos que dá acesso ao rio. |
É claro que para ir até Varela, tem que se passar por S. Domingos, enquanto o almoço ficava a fazer, fui andar um bocadinho na picada de 53 quilómetros que separa S. Domingos de Varela. Também andei pouco, mas encontrei algo interessante. É que a picada tinha sinais de trânsito, o que achei curioso, pois em Bissau não existem muitos. Confirmem com os vossos olhos...
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Como podem verificar, o sinal indica curva à esquerda seguida de uma curva à direita. E não era que se verificou... |
E que tal uma barricada na estrada? Por acaso quando vi pensava que já não conseguia passar, mas chegando mais perto reparei que tinham feito caminho pelo lado esquerdo, era mais fácil... Mas não deixa de ser pitoresco e curioso.
Na Guiné existem muitos termiteiros, e alguns deles bem, mas bem grandes, vejam por exemplo o que está por detrás e usem a moto como escala.
Por estes lados chamam Baga-Baga aos termiteiros. Parecem obras de arte, construções perfeitas com ar-condicionado e perfeitamente ventilado. E ainda por cima aguentam as tempestadas e as trombas de água que se verificam na época das chuvas. Depois disto só mesmo um almoço para depois regressar a Bissau.
Foi assim que se fez uma tirada de moto e enrosquei o punho o tempo que quis. Mais uns quilómetros para acrescentar. E sabem uma coisa, imaginem que dado tão curioso, é que tive que atravessar as mesmas duas pontes para chegar a Bissau. É exactamente como eu costumo dizer que associado a uma descida está sempre uma subida, ou vice-versa. Dado curioso e tudo depende do sentido da marcha que queremos imprimir. Esqueci-me de relatar uma coisa, na ida foram duas pontes e uma paragem no posto de controlo de Ingoré, polícia novo de idade e muito simpático que encontrei. Foi um bom bocado de conversa que tivemos, acima de tudo um bom polícia a nível profissional.
Alongo da viagem também fui atingido várias vezes, sim posso empregar a palavra atingido. Os insectos eram "mais que muitos" e na viseira do capacete parecia que estava a fazer um picasso, parece não, fiz mesmo um picasso e bem bonito que ele estava. Tanto que quando o usei a segunda vez, tive que ir lavar a viseira, pois não conseguia ver quase nada.
Mais um bocado de mim que ficou naquelas estradas e um bocado de pneu, ou seja de ferradura da minha menina. Assim posso dizer que deixei algo meu por onde passei.