terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Cerimónia do "Pano Branco"

Na semana passada fui a uma cerimónia. Cerimónia essa que eu considerei das mais ricas que vi até hoje. A cerimónia que agora vou descrever teve a duração de três dias. Começou na Quarta, Quinta e acabou na Sexta. Esta cerímónia foi efectuada na noite de quinta feira e foi uma animação à Guiné-Bissau. Ela faz parte de um ritual de casamento da etnía Fula e da religião Mulçumana, é como se juntassem as duas partes, a etnia e a religião e surgisse um novo ritual cultural. Foram uns momentos muito bonitos de observar. Infelizmente não consegui tirar fotos, pois eu e a minha nova máquina fotográfica não nos conseguimos entender muito bem. Assim sendo vou contar por palavras escritas o que eu vi e vivi.

A esta cerimónia fui eu e outra colega do PASEG. Chegámos a casa do noivo, foi ele que nos convidou, fomos recebidos de uma forma excepcional, eram abraços e cumprimentos de todas as partes, foi uma alegria ver tanta alegria. Todas as pessoas estavam felicíssimas pelo casamento, e pela união de duas pessoas. Fomos apresentados a um familiar que foi "designado" para nos levar até casa da noiva. Lá fomos nós até casa da noiva. Quando chegámos, havia festa por toda a casa e por todo o lado, eram pessoas dentro e fora de casa e pelos lados. A noiva, uma das personagens principais na cerimónia, estava deitada à porta de casa a ser penteada à luz de lanterna. Para perceberem a importância da noiva nesta cerimónia ficam a saber que o nome da cerimónia se deve a ela. Assim que chegámos, e acabaram de pentear a noiva, ela sentou-se para lhe tirarmos fotografias. Fomos apresentados ao pai da noiva e alguns familiares. Também aqui fomos recebidos de uma forma excepcional e sempre como se fossemos amigos de longa data.

Tirámos fotos dentro e fora de casa e com vários familiares. Foi uma correria para tirar tantas fotos. Depois de tanta correria fomos até à rua. Aí esperámos que a noiva se lavasse para ir ter com o noivo. Isto pensava eu, começou a espera, e espera, e espera que durou cerca de hora e meia.

Passado um certo tempo de espera começou uma grande correria e uma grande animação. Estavam a transportar todos os pertences da noiva de casa dos pais incluindo as prendas que lhe deram de casamento. A nossa prenda que deixámos em casa do noivo foi uma grade de sumo. Passaram baldes, bacias uma arca de madeira e várias cabaças. Passado um bocado comecei a ouvir uma grande discussão, estavam a discutir o dote que a família do noivo deveria pagar à família da noiva para que esta saísse de casa. Grande discussão, grande algazarra, um entrar e sair da discussão e sai mais um e vem mais outra pessoa. Resumindo uma grande animação. Preço do dote acertado, 25000 CFA, e sai a noiva, toda ela vestida com um lençol branco. Estava embrulhada num lençol branco. Sai e entra no carro que lhe era destinado. Nós arrancámos à frente do carro quando de repente verificámos que o carro da noiva não arrancou. Ficámos a saber que tinha sido um familiar da noiva que queria ter o dinheiro do dote na mão antes de ela sair de casa. Mais uma conversa e mais uma discussão e mais uma animação. Passado um bocado e acordo efectuado lá arrancámos.

Quando saímos novamente deviam ser umas dez e meia da noite. Fomos até casa do noivo sempre em festa e as buzinas nunca paravam de tocar. Assim que chegámos a casa do noivo, ele foi recebê-la e deu-lhe uma moeda de 500 CFA, que ainda não sei para que serve, não sei mas vou descobrir. Depois voltou para o quarto que irá ser o quarto do casal. Ele estava com dois conselheiros, para lhe dar conselhos acerca da vida, da vida a dois, da vida partilhada. Entrámos e estivémos a falr novamente com o noivo, ele estava nervoso, bastante nervoso.

A noiva antes de entrar no quarto onde o noivo a esperava, sentou-se na sala onde recebeu novos conselhos de homens grandes, homens mais velhos, que falavam em fula. Além desses homens mais velhos estava um outro homem que traduziu tudo para crioulo. Tal facto deveu-se a sala estar cheia de pessoas que não percebiam a língua fula. Assim, foi como se todos os que estavam presentes servissem de testemunhas aos conselhos que estavam a ser transmitidos. Quando os conselhos acabaram foi a vez da noiva entrar no quarto do noivo, antes de tal acontecer, entrou uma mulher com cabaças na cabeça. Cabaças essas que continham ofertas para os noivos.

Lá fora os festejos continuavam. É uma alegria ver como os guineenses transformam o pouco que têm em muito para dar. Ao longo desta festa, eu fui enebriado pelo estado de espírito que nos envolvia. Posso dizer que fui levado para dentro da cultura fula sem reservas nenhumas. Assim, fiquei com mais um bocadinho da Guiné dentro de mim e se calhar através da minha presença também deixei mais um bocadinho de mim na Guiné. É claro que uma cerimónia destas tem que ter sacrifícios, esta teve vacas e cabras que foram sacrificadas ao longo dos três dias. Senti realmente um empatia muito grande por parte dos guineenses para connosco. Perguntei tudo o que quis e o que me lembrei e sempre, mas mesmo sempre me responderam com a maior das simplicidades. Nunca fui visto nem interpretado com aquela cara do tipo mas o que ele quer e o questá aqui a fazer. Por isso digo e torno a dizer, levo mais um bocadinho da Guiné comigo, mas também deixo um bocadinho de mim na Guiné. É como se fosse uma relação de troca de culturas de conceitos e de sentimentos. É algo de bom sentirmo-nos bem num lugar que nos quer bem...

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