No dia 18 de Dezembro regressei, momentaneamente, a Portugal para passar uns dias com a família. E assim foi, deixei Bissau na madrugada de 18 e regressei na madrugada de 3 de Janeiro do ano novo.
Como já tinha referido, perdi a máquina fotográfica aproveitei agora para comprar uma. Nestas duas semanas que estive em Portugal andei sempre e a visitar vários amigos, da Guiné ou de Portugal, e passei por paisagens fabulosas. O nosso querido Portugal é de uma beleza estrondosa, se calhar nós não lhe damos o devido valor. Fui desde Arruda dos Vinhos até aos Montes Hermínios, passando por Aveiro, Coimbra e Oleiros. Foram umas semanas de contar quilómetros. Mas também foram semanas de reviver tradições familiares mais importantes do que o Natal.
Posso então dizer que neste caso foram terras distantes mas tão próximas. Estando a maior parte do tempo na Guiné-Bissau será que posso considerar Portugal como uma terra distante? Não sei o que responder , mas as saudades de vez em quando vão apertando.
Vamos lá começar por Arruda dos Vinhos.
Aqui fui encontrar uma colega que conheci em Bissau. Fomos almoçar num restaurante chamado "O Fuso". Aqui ficam umas fotos da vila.
Mas voltando ao que interessa ao almoço foi uma bela de uma costoleta de vaca.
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Isto é uma posta.
Para finalizar umas cerejas. |
E foi assim uma boa refeição à hora do almoço com muito boa companhia. O céu estava incoberto, mas de uma beleza inexplicável.
Uns dias mais tarde tive que me deslocar a uma cidade que fica situada nos Montes Hermínios e com a qual tenho um grande carinho. Foi lá que tirei o meu curso na UBI (Universidade da Beira Interior), ou seja estou a falar da Covilhã. Para ir de Mira para a Covilhã vou sempre pela estrada das beiras e mais tarde apanho a nacional 230 que passa pela Ponte das Três Entadas e por Vide.É como voltar no tempo e ver as paisagens mais encantadoras. A beleza da serra com as casas de xisto.
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Três aldeias separadas por pouco e por muito. |
Quando atravessei a serra vi o vazio pintado a sete cores. Sete cores que pintam o céu. Vejam e depois digam-me se não é a uma coisa divina.
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O que estará na outra ponta do arco-íris? |
Continuando viagem encontrei umas quedas de água que gravei para a prosperidade.
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Até arrepia a espinha só de pensar nestas fotos. É que estava um frio de rachar. |
No regresso passámos por casas de xisto, imponentes, belas, orgulhosas,... Elas próprias fazem parte da montanha e a montanha faz parte delas, pode dizer-se que é uma simbiose perfeita.É como se cada pedra já estivesse predistinado a ser uma casa e a casa já tivesse sido feita com o surgimento da montanha.
No mesmo dia que fui e vim da Covilhã ainda dei uma perninha até Aveiro, onde encontrei os moliceiros e os salineiros. Já agora alguém de vocês sabe a diferença entre uma embarcação e a outra?
Os moliceiros eram utilizados para a apanha do moliço que posteriormente era utlizado para adubar as terras. São caracterizados pelas suas proas altivas, impetuosas, explendorosas e orgulhosas.
Os salineiros por sua vez já são mais "toscos", e eram utilizados para transportar o sal até aos bacalhoeiros para conservar o bacalhau que era apanhado nas águas frias do Atlântico Norte.
Barcos estes que hoje em dia são utilizados para dar voltas pela Ria de Aveiro.
Também durante estas duas semanas ocorreu em minha casa uma tradição que já vem de gerações anteriores. Não no mesmo local, mas a mesma tradição. Esta tradição junta mais família do que o próprio Natal. Estou a falar da matança do porco, que ainda ocorre em minha casa. É um ritual que promove não só o alimento para uma temporada, mas também o convívio. Para a matança teve que se fazer uma coisa antes da matança: o ritual de cozer a broa. Sim porque no jantar da matança tem que estar presente broa, é uma obrigação. O porco foi morto de tarde, então de manhã amassei e cozi a broa, sim porque eu tenho gosto em cozinhar. Pois tá claro que para o almoço foi baixada com sardinha assada na telha. Telhas essas que são as mesmas que se utilizam para beber o vinho na festa da telha que eu já referi anteriormente. Para provar que não é mentira aqui fica uma prova:
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A sardinha em primeiro plano, pronta a consumir. |
Baixada é o nome a que damos à broa comida ainda quente e quando ainda não está totalmente cozida. Fica para o verão um roteiro de como cozer a broa. Sardinhas na telha com baixada é um dos partos mais típicos da minha zona, Mira.
Depois foi só esperar pelos familiares para se proceder à matança. A própria matança também é ritual de entreajuda, todos ajudam no que podem e passa por várias fazes. Primeiro sangra-se o porco e aproveita-se o sangue para fazer as morcelas e o sarrabulho. Depois o porco é esfolado e lavado. Por fim é dependurado e tiram-se as "tripas" para mais tarde se fazerem os enchidos. Já os nossos avós diziam duas coisas:
1ª "Desmancha o teu porco e verás o teu corpo";
2ª "Para fazer os enchidos tiram-se as tripas de dentro do porco e coloca-se o porco dentro das tripas".
Quando as tripas já estão fora do porco é só separá-las e ir lavá-las. Entretanto enquanto umas pessoas vão lavar as tripas, outras vão tratar da janta. No final todas as pessoas se reunem para comer e passar longas horas à mesa como bons portugueses que somos. Português que é português tem orgulho em estar à mesa nem que seja só para conversar ou até mesmo ralhar.
Este acontecimento passa-se um ou duas vezes por ano em minha casa, porque assim como me vieram ajudar a matar o porco também vamos ajudar a matar o porco dos outros.
São estas pequenas coisas que nos tornam únicos no meio de TANTOS.